Reverência ao Destino …

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Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em
mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que
realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer,
antes que a pessoa se vá.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o
deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente
te conhece, te respeita e te entende. E é assim que
perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos
camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos
ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é
difícil.
Fácil é dizer “oi” ou “como vai?”
Difícil é dizer “adeus”. Principalmente quando somos
culpados pela partida de alguém de nossas vidas…
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem
ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se
entregar. E aprender a dar valor somente a quem te
ama.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te
aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é
realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo,
mas com tamanha
intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade

Poesias Drummond

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

Para refletir….

” Ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.”

Carlos Drummond de Andrade

 

Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam.

“Carlos Drummond de Andrade”